sábado, 24 de janeiro de 2009

Glutonaria

No livro “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, quando ele descreve o inferno, afirma que há um lugar reservado só para os glutões – era o chamado “Terceiro Círculo”.

O que é glutonaria (gula)?
Antes de trabalhamos o conceito devemos fazer uma distinção entre os dois tipos de gula:

1. A Gula Biológica – que deriva de uma disfunção do organismo.
Segunda a revista Veja (22/03/2000, pág. 114), 2% da população mundial sofre de doença chamada “transtorno do comer compulsivo”.
As vítimas sofrem e fazem até cirurgia para reduzir o tamanho do estômago, recorrem a medicamentos e se submetem a tratamentos rigorosos, com o objetivo de diminuir o apetite e manter o corpo numa boa forma.

2. A Gula Filosófica ou Espiritual – esta é a pior, porque deriva de uma opção – “a opção pelo ventre” – “O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas.” – Filipenses 3.19.

O glutão “não comem para viver, viver para comer”.

Portanto, o glutão é aquele que coloca o prazer de comer muito acima de qualquer outra coisa. Para o glutão, a vida só tem sentido nos banquetes e festas gastronômicas.

O pecado da gula é, portanto, comer sem necessidade, sem sentir fome; comer além do limite, compulsivamente (Boca Nervosa – Ana Maria Braga).

Na Roma antiga, os romanos eram glutões inveterados. Ficaram famosos na história, entre outros motivos, pelos requintados e infindos banquetes, nos quais comiam até não mais agüentam a comida. Depois, iam à janela mais próxima, colocavam para fora tudo o que havia sido ingerido e voltavam para a mesa. Para quê? Para comer de novo.

No texto que fundamenta o nosso estudo, o apóstolo Paulo diz que alguns crentes daquela Igreja, em vez de procurar manter seus apetites físicos sob controle, estas pessoas se entregarem a glutonaria – “Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.” – I Coríntios 9.27

Com base no ensinamento bíblico, percebe-se que a glutonaria é um pecado por algumas razões, entre as quais podemos destacar:

I. A GULA É PECADO PORQUE SIGNIFICA IDOLATRIA DO VENTRE
“O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas.” – Filipenses 3.19

Baseado neste texto, conclui-se, que a prática da glutonaria constitui-se em idolatria, pois a comida torna-se um Deus, isto é, a coisa mais importante para a pessoa.
O verbo mais conjugado na vida do guloso é comer – o estômago é um Deus que precisa ser saciado.

O apóstolo Pedro associa glutonaria a idolatria – “Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias (glutonarias), bebedices e em detestáveis idolatrias”.– I Pedro 4.3

O apóstolo Paulo diz que a glutonaria é um comportamento mundano e desonesto – “A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz. Andemos honestamente, como de dia, não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidade, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja”.– Romanos 13.12-13

No Antigo Testamento, a glutonaria era algo tão sério, que associava a rebeldia, o glutão pagava com a própria vida por esse pecado – “Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedece à voz de seu pai e à de sua mãe e, ainda castigado, não lhes dá ouvidos, seu pai e sua mãe o pegarão, e o levarão aos anciãos da cidade, à sua porta, e lhes dirão: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz, é dissoluto e beberrão. Então, todos os homens da sua cidade o apedrejarão até que morra; assim, eliminarás o mal do meio de ti; todo o Israel ouvirá e temerá”. - Deuteronômio 21.17-18. (versão corrigida).

Nenhum cristão está proibido de participar de festas onde há muita comida. O importante é não priorizar estas coisas em detrimentos do Reino – “O justo tem o bastante para satisfazer o seu apetite, mas o estômago dos perversos passa fome.” – Provérbios 13.25.

Comer bem não significa comer exageradamente. É perfeitamente possível comer bem, aplicando-se a moderação.

Os homens de Filipos, aos quais o apóstolo Paulo considerava como “inimigos da cruz de Cristo” (v.18), a única preocupação deles era com satisfação dos desejos carnais. O seu Deus é o estômago. São glutões.

II. A GULA É UM PERIGO PORQUE DEMONSTRA UM COMPORTAMENTO EGOÍSTA

O guloso se farta em suas orgias enquanto que milhares a sua volta estão morrendo de fome.

O rico da parábola contada por Jesus era um glutão. Enquanto ele se banqueteava, Lázaro comia o que era jogado no lixo (Lucas 16.19-31).

Na Igreja os mais ricos, antecipavam as suas ceia, enquanto outros não tinham o que comer e passavam forte – “Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague.” – I Coríntios 11.21

O apóstolo Judas denuncia os falsos líderes que assim se comportam, pois comprometem a imagem da Igreja – “Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas”, Judas 12.

Observa-se, ainda hoje, que tal atitude está presente em muitas vidas. Não são poucos aqueles que comem além do necessário, desperdiçavam comida e fecham os olhos para as necessidades dos outros.

O egoísmo não é próprio daquele que caminha com Jesus. Aliás, o desafio é para que alimentamos inclusive os nossos inimigos – “Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça.” – Romanos 12.20.

III. A GULA É UM PECADO PORQUE IMPLICA EM MALES FÍSICOS

Todos sabem dos grandes males que o cigarro é o álcool provoca no organismo, no entanto, não há a mesma preocupação com os males provocados pela falta de equilíbrio e controle alimentar.

O texto da revista Veja diz: “... o comer compulsivo não só dilata o estômago como provoca distúrbios cardiovasculares, eleva a taxa de colesterol e aumenta a propensão ao diabete”.

A Bíblia é clara em afirmar que:

O nosso corpo é tabernáculo do Espírito Santo – “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?” I Coríntios 6.19.

O nosso corpo deve ser oferecido como sacrifício vivo santo e agradável a Deus – “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Romanos 12.1.

Portanto, a glutonaria é pecado, pois atinge o corpo que é propriedade exclusiva de Deus.

Na culinária do povo de Deus, havia a recomendação para não se ingerir gordura – “Estatuto perpétuo será durante as vossas gerações, em todas as vossas moradas; gordura nenhuma nem sangue jamais comereis.” – Levítico 3.17

IV. A CURA PARA A GULA – MODERAÇÃO

A Moderação se aplica a tudo na vida. Evitar exagero e ultrapassar limites, são atitudes que revelam equilíbrio e bom senso, trazendo resultados benéficos para a caminhada neste mundo.

Isso se aplica a questão alimentar.

É importante aprendermos duas:

1. O desejo de comer não é, em si mesmo, um pecado. É uma função física normal de nossos corpos – contudo, quando este desejo está fora de controle, permitimos que a glutonaria entre em nossa vida;

2. Comer bem não significa comer exageradamente. É perfeitamente possível comer bem, aplicando-se a moderação.

Para Concluir:

O Cristão precisa entender de que consiste o Reino de Deus – “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” Romanos 14.17

Como se comportaria alguns cristãos gulosos diante do propósito que tomou o profeta Daniel em recusar a comida do rei, por uma questão de santificação – “Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se. Ora, Deus concedeu a Daniel misericórdia e compreensão da parte do chefe dos eunucos. Disse o chefe dos eunucos a Daniel: Tenho medo do meu senhor, o rei, que determinou a vossa comida e a vossa bebida; por que, pois, veria ele o vosso rosto mais abatido do que o dos outros jovens da vossa idade? Assim, poríeis em perigo a minha cabeça para com o rei. Então, disse Daniel ao cozinheiro-chefe, a quem o chefe dos eunucos havia encarregado de cuidar de Daniel, Hananias, Misael e Azarias: Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias; e que se nos dêem legumes a comer e água a beber. Então, se veja diante de ti a nossa aparência e a dos jovens que comem das finas iguarias do rei; e, segundo vires, age com os teus servos. Ele atendeu e os experimentou dez dias. No fim dos dez dias, a sua aparência era melhor; estavam eles mais robustos do que todos os jovens que comiam das finas iguarias do rei. Com isto, o cozinheiro-chefe tirou deles as finas iguarias e o vinho que deviam beber e lhes dava legumes. Ora, a estes quatro jovens Deus deu o conhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria; mas a Daniel deu inteligência de todas as visões e sonhos. Vencido o tempo determinado pelo rei para que os trouxessem, o chefe dos eunucos os trouxe à presença de Nabucodonosor.”– Daniel 1.8-18”.

Talvez seja em função dos males físicos e espirituais da glutonaria que a Bíblia recomende a prática do jejum.

O Senhor Jesus recomenda – “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo” (João 6.27).

A nossa oração diante deste pecado é – “Põe guarda, SENHOR, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios. Não permitas que meu coração se incline para o mal, para a prática da perversidade na companhia de homens que são malfeitores; e não coma eu das suas iguarias”.– Salmo 141.3-4

texto tirado do blog:
http://professorpadua.blogspot.com/2007/09/glutonaria-pecando-de-barriga-cheia.html

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